29 de Setembro, dia de São Miguel.
No lapso tempo que vai dos meados do século XVII aos meados do século XVIII, a feira anual de Alenquer deixou de se fazer pelo São João, passando a realizar-se pelo São Miguel, por dois dias, 29 de Setembro, o dia do Santo, e véspera. Segundo o testemunho dos párocos da vila, em 1758, era «feira de pouca importância» e realizava-se no Rossio do Espírito Santo (actual largo do mesmo nome).
Mas se em meados de Setecentos a feira tinha pouca importância, pelos finais do século XIX chegou mesmo a estar em decadência, como evidenciam as notícias da imprensa local.
Procurando reagir a essa decadência, que em nada favorecia a sua classe, um grupo de comerciantes da vila abalançou-se, em 1896, num importante melhoramento para Alenquer: a expropriação da Horta do Canto (hoje Parque Vaz Monteiro), juntando este espaço ao Largo do Espírito Santo, a fim de alargar o recinto da Feira de S. Miguel.
A obra fez-se e «em Setembro de 1897, por dia de S. Miguel», conforme conta Guilherme Henriques, «inaugurou-se a feira na nova área, passando a ser de três dias em lugar de algumas horas, com dantes era, e em vez de ser de gamelas, cestos, cebolas e esteiras de bunho, passou a ser feira de gado e de produtos diversos».
Henriques descreve assim o espaço, em 1902:
«Na margem direita do rio, desde a ultima oficina da Fábrica o Meio, no sentido descendente, até á ponte do Espírito Santo, e ainda daí até confinar com a Fábrica da Chemina, há uma grande área de terreno, a primeira parte da qual, arborizada, com bancos de ferro e cortado pela rua pública, serve para as barracas para a venda de produtos industriais, terrado para exposição de cerâmica, etc., no mercado mensal e na feira anual.
A outra parte, ainda há poucos anos desigual, lamacenta, e com apenas metade da extensão que hoje tem, servia de mercado de gado das diversas espécies, para cujo serviço tem hoje a área suficiente, mas, há dez anos, tão pouco chegava que houve época em que o mercado de gado suíno teve de ser transferido para o terreno entre a Torre da Couraça e a porta de Nossa Senhora da Conceição, e, também, para a estrada e terrenos baldios adjacentes, em frente da Fábrica de Papel. Esta separação de mercados era inconvenientíssima para o povo e para os negociantes».
Renovada, a Feira de S. Miguel chegará mesmo a revestir-se de «grande brilhantismo», como em 1909, 26 e 27 de Setembro (adaptando-se talvez ao Domingo mais próximo), «devido aos esforços empregados por uma comissão que para esse fim se constituiu», e em que «o programa de festejos foi cumprido à risca». Programa diversificado, incluía corridas pedestres, raid burrical, cavalhadas, fogo de artifício e banda de música. As notícias são em tudo diferentes às da década anterior: «Nos dois dias houve grande concorrência de forasteiros, fazendo-se algumas transacções, tanto em gado como em outros géneros. As barracas da feira fizeram todas excelente negócio, assim como as casas de pasto, onde chegou a esgotar tudo que havia, em algumas, apesar de bem fornecidas» (Damião de Goes, n.º 1240, 03.10.1909).
Em 1941, a Feira de Alenquer, anual, e assim simplesmente chamada, criada pela Câmara Municipal de Alenquer, por sugestão do Grupo dos Amigos de Alenquer, mantendo-se no mesmo local, veio substituir esta antiga feira.