terça-feira, 11 de setembro de 2012

Padre José Eduardo Ferreira Martins
(22.08.1934-08.09.2012)
Amante da História e da Arte, defensor do Património
Em José Eduardo Martins o gosto e a dedicação pela história, pela arte e pelo património, não se ficaram apenas pela contemplação, pelo deleite espiritual das horas vagas. Como escreveu D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, prefaciando o seu último trabalho – Alenquer 1758, o actual concelho nas Memórias Paroquiais, “cedo compreendeu a urgência e a conveniência de guardar e difundir a tradição cristã das comunidades que lhe foram confiadas, bem como as de todo o concelho. Não houve templo que não visitasse e a vários recuperou ou ajudou a recuperar convenientemente; não houve fonte histórica – erudita ou popular – que esquecesse, nem vestígios que enjeitasse. Todos o sabem, todos lhe agradecem, sobretudo por não ter uma atitude ‘passadista’, antes salvadora do melhor que foi para criar o melhor que virá”.
A sua obra nestes domínios apresenta, assim, duas componentes: uma mais teórica e outra mais prática, chamemos-lhes assim.
A primeira assenta no estudo dos valores culturais do concelho de Alenquer, na sua divulgação e na pedagogia da sua protecção. Passa pela recolha das fontes, pelos inventários, pela fotografia, pelas publicações, pelas exposições.
A segunda, cujo sucesso decorre da primeira como pré-requisito fundamental, consubstancia-se na reabilitação material dos imóveis com valor histórico-cultural, nomeadamente as várias igrejas, que promoveu ao longo de décadas. “Na minha opinião, as obras de arte, mesmo que possam render muito dinheiro, nunca devem ser afastadas da zona para onde foram feitas. Elas fazem parte integrante da cultura e da história do povo dessa zona e valorizá-las é valorizar esse mesmo povo”, escreveu ele em finais da década de sessenta.
Em Alenquer, começa por ser membro da Comissão Municipal de Arte e Arqueologia.
É, em 1969, um dos redactores de “Colaboração”, suplemento cultural do jornal A Verdade.
Em 1975 é um dos membros mais activos da comissão instaladora que abre ao público, em 6 de Abril do mesmo ano, o Museu Municipal Hipólito Cabaço, sendo de seguida eleito primeiro-secretário da comissão directiva do mesmo, cargo que ainda ocupa em Setembro de 1977.
É um dos fundadores, em Novembro de 1978, da Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Alenquer. Será, por largo tempo, dirigente da mesma e um dos responsáveis pela publicação do seu boletim - Património, pelas inúmeras exposições didácticas anuais, e pela perseverante sensibilização e influência junto dos órgãos municipais no que toca à preservação do património concelhio.
Sob a égide desta associação e com o apoio do município, publica, em 1983, em co-autoria com António de Oliveira Melo e António Rodrigues Guapo, o primeiro volume da colectânea O Concelho de Alenquer – Subsídios para um roteiro de Arte e Etnografia. O segundo volume sairá em 1984, o terceiro em 1986, e o quarto, e último, em 1987. É hoje uma obra incontornável da bibliografia alenquerense, e de todos os volumes se fizeram já segundas edições.
Colabora, em princípios da década de noventa, na realização da exposição “O Trabalho e as Tradições Religiosas no Distrito de Lisboa”, promovida pelo Governo Civil.
É, pela mesma altura, membro da Comissão de Arte Sacra do Patriarcado de Lisboa.
Em 1997 dirige a revista Estudos de Alenquer, propriedade da Cooperativa “Estudos Alenquerenses” e patrocinada pela Câmara Municipal de Alenquer, dedicada à história local, arte e património.
Em 2000 é um dos coordenadores de Damião de Goes – Uma antologia de textos biográficos, edição da Câmara Municipal de Alenquer, sendo co-responsável pela estrutura e pesquisa e autor de algumas das fotografias.
Foi, durante mais de uma década, um regular colaborador das tardes culturais organizadas por Mestre João Mário na sua Galeria-Museu de Alenquer, dedicada à arte figurativa. Com o professor Rodrigues Guapo ali proferiu algumas conferências versando temas caros a ambos como a arte ou a etnografia.
Colaborou também, desde o seu início, em 1998, na organização da Bienal de Arte de Expressão Figurativa de Alenquer, idealizada por João Mário e promovida pelo Pelouro da Cultura da Câmara Municipal.
É, de resto, reconhecida a sua competência como fotógrafo, paleógrafo e restaurador de arte sacra.
Paralelamente, as obras de reabilitação material dos imóveis da paróquia exigem-lhe, ao longo de décadas, um esforço quase permanente. Idealiza as obras, faz esboços, faz contas, contrata e gere o pessoal. Tudo começou nas paróquias de Aldeia Galega e Aldeia Gavinha, na década de 1960, com obras de vulto na primeira e um restauro total da segunda. Já em Alenquer, o sucesso de cada campanha, dá-lhe alento para iniciar a seguinte. Com o apoio de paroquianos dedicados, promove peditórios e quermesses, explora bares nas feiras locais e aproveita todos os subsídios oficiais. Uma a uma, as igrejas da vila vão sendo recuperadas: a de São Francisco, cujas obras se iniciaram em 1982, abre ao culto em Outubro de 1986; a de Santa Catarina em 1994; Nossa Senhora da Assunção de Triana em 2000; não esquecendo reparações de grande envergadura na de São Pedro ou no Centro Paroquial, instalado no antigo Palácio dos Lobos.
Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alenquer entre 1995 e 2006, depois vice-provedor, acudiu igualmente aos seus imóveis, um considerável património com valor histórico e arquitectónico que exigia obras de conservação e restauro: a Igreja e Casas da Misericórdia, anexas, foram objecto de várias beneficiações; os claustros e outros espaços contíguos do antigo Convento de São Francisco foram completamente restaurados; a Igreja do Espírito Santo também, sendo o edifício de varanda e arcada da sua antiga Albergaria praticamente reconstruído. Estas últimas obras permitiram, aliás, que em simultâneo com a sua inauguração, em 2007, renascessem em Alenquer as seculares Festas do Espírito Santo, há muito interrompidas, iniciativa na qual o Padre José Eduardo Martins pôs o seu máximo empenho.
Foi sobretudo na sua qualidade de “paladino da defesa do património” que foi agraciado, em Alenquer, com a medalha de mérito municipal, grau prata, por deliberação da Câmara Municipal tomada em reunião de 24 de Maio de 1993 e aprovação da Assembleia Municipal de 31 do mesmo mês, decorrendo a cerimónia pública de entrega no dia 10 de Junho do mesmo ano.