quarta-feira, 25 de outubro de 2023


«OS CONSTRUTORES DA CÂMARA»



 

A fotografia não tem título. Mas tendo sido já publicada por duas vezes em obras de história local foi, numa delas intitulada, ou legendada, como «Os construtores da Câmara».

Apresenta, no verso do cartão-suporte, uma data inscrita, a lápis azul: 1888.

Apresenta, no verso, inscrito, a tinta vermelha: «Ofício 319/82», documento com que se terá agradecido a doação da fotografia por parte da direção do Museu Municipal de Alenquer ao seu doador, descendente de um dos retratados.

A fotografia não se encontra assinada nem apresenta, quer na frente, quer no verso, quaisquer indicações (manuscrita, impressa ou carimbada) que permitam determinar a autoria.

Sabe-se, no entanto, que, em 1888, se encontravam estabelecidos em Alenquer dois fotógrafos: José Tavares da Silva, pelo menos desde janeiro do mesmo ano, e José de Lemos, desde 1885. Um destes será, muito provavelmente, o autor da fotografia.

De formato retangular, impressa sobre a horizontal, mede 22,7 x 17,2 cm, encontrando-se colada num cartão-suporte com 25 x 20 cm.

Está impressa em tonalidade sépia.

Encontra-se, de uma forma geral, em bom estado de conservação.

A «Câmara» é o edifício dos Paços do Concelho, que se veio a inaugurar em 2 de janeiro de 1890 e cuja construção se iniciara em 7 de março de 1887.

Os «construtores» são os homens que, naquele momento, no âmbito das suas especializações, se ocupavam do andamento da obra.

Tem como fundo a fachada sul do edifício municipal em construção. As paredes estão levantadas e as cantarias colocadas. Os andaimes e escadas de madeira estão montados. O revestimento exterior, fingindo pedra aparelhada, ainda não existe, assim como ainda não existem janelas ou portas ou sequer as suas aduelas.

O grupo retratado é composto por 46 indivíduos, todos do sexo masculino, dispostos em forma de pirâmide, em vários níveis ou planos, para que «coubessem» todos.

De uma forma geral, procuram «imortalizar-se» com a melhor aparência possível, conscientes da solenidade do momento. A postura e os olhares austeros seguem a exigência, ou norma, de quem se faz retratar naquela época.

Apesar do contexto de trabalho, houve cuidado na indumentária. Luís Venâncio, que reproduziu esta fotografia em Alenquer, concelho multissecular e monumental, legendou-a desta forma: «Operários com trajo domingueiro posando para a posteridade, tendo por cenário o edifício da Câmara (ainda com andaimes), no qual trabalharam.»

Os planos seguem uma hierarquia, mesmo que não absolutamente rígida. No primeiro, onde se encontram as figuras mais destacadas, mas também no segundo, encontram-se os trajes mais elegantes. É nestes dois planos que se concentram mais indivíduos de chapéu, contrastando com os planos que se lhes sucedem, onde há mais indivíduos de barrete.

A maioria dos indivíduos faz-se fotografar ostentando intencionalmente ferramentas de trabalho ou outros instrumentos de identificação das suas profissões.

Assim, logo no primeiro plano, e da esquerda para a direita, podemos reconhecer o topógrafo, com o seu nível ótico ou teodolito apoiado em tripé de madeira; o projetista, com os planos na mão (aberto) e sob o braço (enrolado); os canteiros, junto a um bloco de pedra, com os seus ponteiros e macetas; os estucadores, com os seus esquadros e molde.